Panorama geral do mercado de M&A em Portugal em 2024 - 3VIA
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Panorama geral do mercado de M&A em Portugal em 2024

Panorama geral do mercado de M&A em Portugal em 2024

O mercado de fusões e aquisições (M&A) em Portugal registou em 2024 um volume de transacções relevante, mas também sinais de abrandamento face a 2023. Conforme o relatório da TTR Data, entre Janeiro e Outubro de 2024, foram registadas 461 operações, com um valor agregado de €9,3 mil milhões — dos quais cerca de 39% divulgou o valor. 
Esses números traduzem uma queda de aproximadamente 20% no número de operações e 23% no montante mobilizado, em comparação com o período homólogo de 2023. 

Outras fontes indicam que, quando considerado todo o ano de 2024, o valor mobilizado poderá ter chegado a cerca de €12,6 mil milhões, com 602 operações concluídas — segundo relatório da TTR Data publicado no início de 2025. 

Este cenário sinaliza, portanto, duas coisas: por um lado, o mercado continua vivo — há operações relevantes, envolvimento de capitais e interesse internacional. Por outro, manifesta-se uma desaceleração, que pode estar relacionada com diversas condicionantes macro-económicas e sectoriais — juros mais elevados, incerteza económica, pressão regulatória, entre outras.

Principais tendências e destaques

Sectores em destaque

  • O sector imobiliário (Real Estate) foi o que apresentou maior número de transacções em 2024. No período de Janeiro-Outubro, registaram-se 80 operações. «
  • O mercado de Internet, Software & IT Services foi o segundo mais activo nesse período, com 53 operações — embora com uma queda de 23% face a 2023. «

Actividade internacional (cross-border)

  • Em termos de número de operações de investimento em Portugal, Espanha e França foram os países com maior presença: 53 e 28 transacções respectivamente no período Janeiro-Outubro. 
  • As empresas portuguesas, por sua vez, escolheram Espanha (34 transacções) e Reino Unido (13) como principais destinos de investimento. 
  • No segmento da tecnologia e Internet, as aquisições estrangeiras aumentaram cerca de 26% comparado com 2023. 

Outras formas de investimento: Private Equity, Venture Capital, Aquisição de activos

  • Até Outubro de 2024, foram registadas 51 transacções de private equity, perfazendo €2,6 mil milhões. 
  • No venture capital, 100 rondas de financiamento totalizaram €668 milhões — um aumento de cerca de 40% face ao período homólogo. 
  • A categoria “asset acquisitions” (aquisição de activos) registou 109 operações, com valor agregado de €2,9 mil milhões — aumento de cerca de 61% face a 2023. 

Principais assessores legais e financeiros

  • Em termos de assessoria jurídica para transacções, a firma Cuatrecasas Portugal destacou-se, liderando com 28 transacções e valor total de €1,8 mil milhões no período até Outubro. 
  • Na assessoria financeira, o banco J.P. Morgan Chase International Holdings liderou em valor (≈ €900 milhões) e o Banco Santander em número de operações no período considerado. 

Interpretação e implicações para as empresas

O que estes dados significam para quem está ou quer estar activo no mercado de M&A?

  1. Continuação de oportunidades, mas com maiores exigências.
    O mercado mantém-se activo, o que significa que há espaço para operações estratégicas de compra, fusão ou entrada de capital. No entanto, a queda no número e valor das transacções sugere que a concorrência, avaliação de risco e rigor dos investidores estão mais intensos.
  2. Sector imobiliário como “porto seguro” – O destaque do Real Estate mostra que este sector continua a atrair investimento — talvez pelo carácter tangível do activo e pelas diversificações que permite. Para empresas com empreendimentos imobiliários ou activos “físicos”, pode ser uma zona de interesse prioritário.
  3. Tech como área de crescimento – com caveats – Apesar da diminuição no número de operações no sector IT comparado com 2023, o aumento de aquisições estrangeiras no segmento tecnologia mostra potencial. Empresas portuguesas ou com presença em tech podem aproveitar para posicionar-se como alvo ou investimento estratégico.
  4. Importância crescente de estratégias cross-border – A presença forte de Espanha e França como investidores em Portugal e de Portugal no investimento externo sublinha que as operações internacionais têm peso. Para uma empresa portuguesa, isso significa avaliar parceiros estrangeiros, conhecer os mercados vizinhos e estruturar transacções numa óptica internacional.
  5. Assessoria especializada como fator diferencial – Dados os volumes e o grau de complexidade crescentes, escolher bem os assessores jurídicos e financeiros torna-se crucial. A experiência das grandes firmas ou bancos em transacções cross-border e em sectores de elevada tecnicidade pode fazer a diferença entre uma operação bem-sucedida ou bloqueada por riscos (jurídicos, regulatórios, impostos, etc.).

Riscos e condicionantes

  • A queda no valor total e no número de operações indica que o ambiente macro (juros mais altos, inflação, incerteza económica global) está a pesar. Para empresas que consideram crescer por aquisição, isso exige um planeamento financeiro mais robusto.
  • Avaliações excessivas ou timmings desfavoráveis podem comprometer o sucesso da operação.
  • As operações internacionais envolvem múltiplas jurisdições, regulação diversa e risco de integração cultural/operacional.
  • Em sectores com forte competição ou inovação acelerada (como IT/Software), o tempo de execução da transacção pode ser crítico.

Recomendações práticas

  • Realize due diligence rigorosa: os investidores estão mais criteriosos, pelo que a qualidade da informação financeira, fiscal e operacional faz toda a diferença.
  • Avalie sinergias e integração pós-aquisição: não basta comprar ou fundir — o sucesso assenta também em integrar bem (equipa, cultura, sistemas).
  • Explore opções de internacionalização: seja como alvo ou como investidor, olhar para além das fronteiras pode abrir portas.
  • Prepare-se para valorações mais exigentes: o mercado por vezes penaliza empresas com défices de crescimento, governança ou inovação.
  • Considere estratégias híbridas: nem só M&A “clássico” —aquisição de activos, entradas parciais ou alianças estratégicas podem ser alternativas viáveis.
  • Fique atento a mudanças regulatórias e fiscais: Portugal tem tido alterações — e especialmente em operações internacionais, estas variáveis podem influenciar decisivamente.
  • Escolha bons parceiros (advogados, bancos, consultores) que tenham experiência local e internacional.

Conclusão

Em suma, o ano de 2024 foi de consolidação e alguma retração para o mercado de M&A em Portugal — o volume de operações e o montante mobilizado registaram quedas relevantes. Ainda assim, o mercado continua dinâmico, com sectores como o imobiliário e o tecnológico a apresentarem oportunidades reais, e com investimento cross-border a manter-se relevante. Para empresas que ambicionam crescer ou reconverter-se através de fusões, aquisições ou captações de capital, o cenário exige maior preparação, rigor e visão estratégica internacional.

Com a combinação certa de visão, execução e parceiros sólidos, é possível transformar esse ambiente de “desaceleração” numa oportunidade para ganhar vantagem competitiva.

Referências

  • Iberian Lawyer
  • Jornal Económico
  • Ttrdata

Mariana Silva| Vila Nova de Gaia, 30 de outubro de 2025